Depois que fechei a empresa de café fiquei desconectada desse universo, inclusive até mesmo parei de beber café por algum tempo.
Faz alguns meses estou voltando a tomar café, a variar os tipos de métodos e grãos e voltando a frequentar cafeterias.
Dentro desse processo, que nem preciso dizer é absolutamente normal em tudo que você se dispõe a se envolver de maneira profunda, há muitos aprendizados, conexões e sobretudo mudanças. As vezes aquilo que você achava o máximo depois de um tempo começa a não mais fazer sentido.
Vivendo esse contexto comecei a rever as minhas escolhas por cafeterias.
Antes quais tipos de cafeterias me interessava
Inicialmente as cafeterias de terceira onda no Brasil tinham uma grande influencia dos Estados Unidos. Os funcionários em sua maioria era uma mistura de Amy Winehouse com lenhadores tatuados americanos. Basicamente todas as pessoas que trabalhavam nessas cafeterias em alguma medida se enquadravam nesse estereótipo. Falando das cores, layout, design. Posso dizer que quase todas eram de cor escura, em geral preto, variando um pouco do cinza e do marrom madeira. Os nomes, 99,9% das vezes eram em inglês. E não era incomum, quando se entrava nesses lugares, você era literalmente transportada para algum bairro na periferia de Nova York.
Eu achava o máximo.
Quando fui morar no Brooklyn e as cafeterias de lá
Tive a oportunidade de verdadeiramente me transportar para um bairro nas imediações de Nova York. Morei em diferentes partes do Brooklyn e tinha como rotina visitar cafeterias na região.
O que posso dizer é que foi uma experiência incrível. Apesar do brasileiro consumir muito café, não conseguimos nem passar perto do consumo do café fora de casa que os americanos praticam. Simplesmente eles chegam a tomar café 3 vezes ao dia fora de casa, em períodos diferentes do dia. É uma monstruosidade, sério.
Contudo o reflexo nisso é uma quantidade enorme de cafeterias e delis por todos os lugares que você passe. As delis não mini mercados onde se vende de tudo, inclusive cafés e bebidas.
Cada região do Brooklyn, por exemplo, tem sua personalidade. Tem áreas de judeus ortodoxos, áreas de negros jamaicanos, áreas de negros americanos hip hop, áreas que são uma verdadeira extensão de Manhattan, e áreas mais hipsters como em Bushwick e Greepoint. E as cafeterias dos locais vão em muitas vezes seguindo essas culturas e identidades.
Em geral as cafeterias de terceira onda no Brasil seguem essa cultura Brooklyn com uma tendência Bushwick hipster. E se você visita esse bairro por exemplo você vai ficar maravilhado com os grafites na região, os restaurantes e o estilo dos próprios moradores do local.
Em outras palavras, as cafeterias refletem as próprias identidades dos locais, no caso no Brooklyn, a cultura dessa região.
Que tipo de cafeteria não frequento mais
Estou em Florianópolis hoje, em uma avenida chamada Pref. Osmar Cunha. Fiz uma busca de cafeterias na região e para minha alegria apareceram muitas. Comecei visualizando as fotos, nomes, localização e tamanho de cada uma. Meu objetivo era escolher uma com um bom café, uma boa torta e algum espaço para que eu ficasse a vontade para estar um tempo e escrever esse post que você esta lendo.
Como não sabia que Floripa tinha tantas cafeterias, usei um tempo para fazer essa busca.
Quais cafeterias exclui da minha busca
Na hora de escolher uma cafeteria primeiramente deve-se considerar a qualidade do café. Aquelas cafeterias que não possuem uma maquina de expresso saíram da minha lista logo de primeira. Geralmente dois moinhos de café é um bom indicativo que a cafeteria trabalha com cafés de qualidade.
Depois tem as fotos do cafés que geralmente as pessoas tiram e postam. Um espresso com uma crema caramelo e consistente também é um bom sinal.
Assim como as fotos dos doces também foi um ponto de corte. Tortas e cheese cake sempre me abrem mais os olhos do que aqueles bolos grandes de ninho com nutella.
Quais cafeterias resolvi excluir na minha lista
Mas até aí tudo bem, ainda não cheguei no ponto em que quero chegar.
Acima de tudo o ponto que quero chegar é aquele que eu mudei.
Estava indo em direção a cafeteria escolhida e me deparei no caminho com uma cafeteria XPTO coffee roasters. Vamos lá, o nome dela realmente terminava com coffee roasters. Eu até sei o que significa, mas você sabe? Um cidadão padrão brasileiro sabe o que seria um coffee roasters?
Desviei um pouco da rota e fui olhar através da vitrine. E lá estavam os funcionários Amy Lenhador. Colei o rosto no vidro, para ver melhor, e pensei: minha mãe não entraria aqui. Meia luz, design em preto e cinza. Muita personalidade.
Se fosse um tempo atrás certamente era essa cafeteria que eu iria entrar. Ia parar ao lado da maquina de espresso e curtir aquele cheiro de café torrado e moído no ar.
Mas hoje, olhei fixamente do lado de fora e simplesmente não senti conexão com a minha cultura, não senti conexão com a cultura de Floripa, não senti conexão com os cafés brasileiros.
Sim, aquilo me transportou para Bushwick de fato, mas hoje eu estava na Ilha da Magia, apaixonada com tudo relacionado a Floripa. O que mais queria era mais da sua cultura jovem mística natureba. Que eu adoro!
Em conclusão esse foi meu ponto de transformação. Hoje busco a cultura e identidade do local onde estou. Do aqui e do agora. O Brooklyn eu deixo para quando eu estiver outra vez por lá, que não deve demorar. Mas enquanto eu estiver aqui, especialmente num lugar tão cool surf natureba como Floripa, quero mais da identidade do local, do dono do estabelecimento ou do conceito do lugar.
Tudo aquilo que me tiram dessa identidade, passou a não ser mais a minha escolha.