Você e o Café

Café com Aroma de Saudade

rosca da rainha e cafe
Pão de minuto, broa de fubá, biscoito frito, sonho, rosca da rainha. Delícias feitas por minha avó Maria, mãe de minha mãe, que vinham sempre acompanhadas por um delicioso café, na casa dela, na rua Malacacheta, no bairro Carlos Prates. O cheiro delicioso do café – oriundo daquela fumacinha que sobe da água fervente que coa o pó –  era a senha para que os netos corressem para a cozinha, cabelos empapados de suor de tantas brincadeiras.
 
Tardes de um eu menino peralta que, mesmo com as pernas curtas, conseguia alcançar do parapeito da janela lateral de um dos quartos da casa de minha avó, a goiabeira, no fundo do quintal. Árvore com uma sombra onde, por vezes, me abrigava, sentado na terra, de bermuda e calçado com botinas, e então sonhava acordado coisas bonitas. 
 
Apreciar as delícias e o café da minha avó era um momento de pausa nas brincadeiras que, quase sempre, se resumiam às batalhas entre mocinhos e bandidos. Eu e meus primos. Que tempos!
 
Quando avó Maria anunciava que ia fazer sonho, eu, que contava uns sete, oito anos de idade, achava estranho. Pensava comigo: “Como assim alguém pode fazer sonho, se nos ensinaram que sonho era o que a gente podia ter quando dormisse?”
 
Foi então que descobri que aquele sonho, na verdade, era feito com algumas colheres de trigo, amido de milho, açúcar refinado, com ovos, leite, sal, fermento e canela em pó. Passei a sonhar mais doce pela vida. E até hoje sou um sonhador. 
 
Lembrei disso tudo hoje quando parei numa padaria e meu copo de café repousou em cima do balcão repleto de biscoito frito, broas e tortas. 
 
O café torrado, segundo dizem os especialistas, pode exalar até 800 aromas diferentes, dentre eles, alguns com cheiro de chocolate, baunilha, limão, canela. 
 
Na padaria, hoje, o café que degustei exalou um delicioso aroma de saudade dos tempos da casa de avó.

Sobre o autor

Edu Durães