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Melhores do mundo: você conhece o café do jacu?

Você provaria um café produzido a partir das fezes de um animal? Por mais estranho que pareça, é isso mesmo que você está lendo. O café do jacu, referência no mundo todo, é um produto brasileiro, produzido com base nos grãos eliminados nos dejetos do pássaro homônimo natural da Mata Atlântica.

Embora isso possa causar uma certa repulsa inicialmente, há um motivo para ele ser produzido assim. Há muito o que descobrir sobre esse café. Ficou interessado nesse assunto? Então certamente você deve ler esse texto até o final!

A história do café do jacu

O princípio dessa história remete à Fazenda Camocim, na cidade de Domingos Martins, interior do Espírito Santo, em meados de 2000. Nos dias de hoje, a relação entre o lugar e os jacus é extremamente amigável, mas nem sempre foi assim.

Reconhecida por oferecer grãos de qualidade superior, o trabalho desenvolvido pelos produtores da fazenda resultou em um produto orgânico de excelente sabor. Os cafés produzidos nessa fazenda conquistaram os aficionados por cafés gourmet no Brasil e no mundo.

Problemas com os pássaros

Acontece que a qualidade dos cafés da Camocim também atraiu o paladar dos jacus. Antes deles aprenderam a coabitar as aves eram um verdadeiro problema para os produtores cafeeiros capixabas. Os jacus atacam os cafezais e devoram os frutos, destruindo parte da colheita e causando grandes prejuízos a cada safra e a cada ano.

Buscando alternativas ao extermínio das aves, os administradores da fazenda tiveram uma ideia inusitada, inspirando-se no processo de produção do café mais caro do mundo. Havia algo de muito semelhante entre os cafeicultores asiáticos e os brasileiros. Isso não só solucionou o problema das pragas como também valorizou o produto local.

Solução que vem da Indonésia

O Kopi Luwak, como é chamado esse café, é produzido a partir de grãos de café extraídos das fezes de uma espécie de Gambá selvagem da região da Sumatra, que assim como o jacu, um dia já foi considerado uma praga para os produtores da região.

Tudo mudou quando os produtores perceberam que a digestão do animal expelia o grão inteiro e concedia ao café características excepcionais. Dessa forma, é possível prepará-lo normalmente e obter um café diferente de qualquer outro.

Ao perceber que o mesmo acontecia com a digestão do jacu, esse fazendeiro resolveu adaptar o processo de produção à sua realidade. Assim nasceu o café do jacu.

A digestão do jacu

Do seu processo digestório é que vem o segredo e o diferencial do produto. Ao ingerir o café, o organismo do pássaro, que não tem estômago, aproveita apenas a polpa e a casca do grão, eliminando-o intacto. Além disso, a digestão do animal deixa o café com um sabor único.

Os processos seguintes seriam os mesmos do Kopi Luwak — limpeza, secagem e torra. Sendo assim, o fazendeiro de Camocim, adaptou aquilo que seria uma praga a uma alternativa sustentável e extremamente lucrativa.

Os produtores da região comparam a produção do café do jacu com a extração de diamantes. Isso porque esse grão não é colhido, mas sim encontrado nos cafezais da região, conforme a digestão dos pássaros. Com as premiações adquiridas pela marca, ele atualmente é considerado um dos cafés mais caros do Brasil.

A produção de um dos cafés mais exóticos do mundo

A produção do café do jacu é diferente de qualquer outro café no Brasil porque inclui uma ave nesse processo. Tudo começa com o jacu, que ao atacar os cafezais, não apenas come os grãos como seleciona os melhores, ou seja, os mais saudáveis e maduros para ingerir.

Depois de digerido, o produto ganha um sabor único, agregando sabores e aromas que os outros cafés gourmet não possuem. Como os jacus são encontrados nessa região do país, essa bebida possui um valor de localidade específica da Mata Atlântica do Espírito Santo e Minas Gerais. Isso é chamado de terroir.

Um experimento que deu certo

A colheita é feita no pé das árvores, onde as aves normalmente deixam suas fezes. Logo os grãos são encaminhados para um processo de limpeza e depois são torrados e moídos. Sendo assim, você não precisa se preocupar com o fato do café ser excretado por um pássaro, certo?

Obviamente as primeiras colheitas desses grãos foram feitas em caráter experimental. Agora, depois de mais de dez anos de história, esse produto, um tanto quanto exótico, figura como um dos cafés mais caros do país.

O café mais caro do Brasil

O café do jacu detém o título de café mais caro do Brasil e um dos mais caros do mundo. Não é para menos, afinal o processo de produção é totalmente natural, uma vez que depende da alimentação e digestão de pássaros silvestres, que claramente não trabalham de acordo com a demanda de mercado cafeeiro.

Como o jacu é uma espécie ameaçada de extinção, ele não pode ser preso e nem reproduzido em cativeiro. Sendo assim, toda a produção desse café depende que a ave coma naturalmente os grãos. Isso torna a produção limitadíssima e justifica o preço bastante elevado do produto, que pode custar cerca de 30 vezes mais que o café tradicional. O ponto é que certamente vale a pena desembolsar essa quantia para apreciar uma iguaria especial e preciosa como essa.

Os sabores do café do jacu

Não basta ser exótico, ele deve ser saboroso. Isso essa bebida tem de sobra! Os grãos desse tipo produzem uma bebida equilibrada, com um gosto único. Ainda que na Indonésia haja o já citado Kopi Luwak e o Black Ivory (feito a partir das fezes de elefantes), o café do jacu só existe aqui, no Brasil, na Fazenda Camocim.

Não é só café! É um café com história e cultura. Algo que é nosso, valorizando sempre a tradição e a expertise brasileira na produção do grão! Vale a pena experimentar.

Com certeza, muita gente do seu círculo de amizades não conhece o café do jacu! Então compartilhe agora mesmo com seus amigos em suas redes sociais essa história curiosa e fascinante.

Café e ecologia

O jacu é uma ave ameaçada de extinção e, portanto, protegida pela legislação ambiental em toda região da Mata Atlântica brasileira. Os recentes crimes ambientais envolvendo a morte do Rio Doce são um dos fatores que comprometem a reprodução da espécie no estado do Espírito Santo, onde o rio deságua.

Em função dessas leis que protegem essa espécie, não é permitido caçar, tampouco prendê-los para criá-los em cativeiro. Isso dificulta a produção do café do jacu, já que é impossível alimentar as aves em gaiolas para depois colher os grãos nos dejetos.

Por outro lado, essa dificuldade favorece os hábitos naturais das aves, ajudando a perpetuar a espécie. Dessa forma, além de produzir um café de sabor único no mundo e vendê-lo a preços excelentes no mercado exterior, a Fazenda Camocim cumpre o seu papel ecológico, preservando os jacus da região em uma produção biodinâmica, sustentável e saudável.

Sobre o autor

Troco do Café

Troco do Café é um projeto com o objetivo de facilitar o acesso aos cafés de qualidade produzidos no Brasil!