Fui criado no interior da Bahia pela avó mais afetuosa do que eu jamais poderia desejar. Seu olhar, pura expressão de paciência e afeto, parece sempre convidar para um café quentinho, desses que se toma na companhia de um amigo de longa data com quem se pode conversar sobre absolutamente tudo.
Lembro-me de ser acordado todos os dias pelo aroma de café coado em filtro de pano e ir, ainda sonolento, até a cozinha para assistir àquela nobre senhora manipular todo o aparato e, em meio aos vapores de água fervente, concluir a produção da bebida.
Não havia técnica especial de preparo. Não havia requinte na seleção do grão. A emoção dava a tônica e quem bebia o café se sentia afagado. É provável que venha daí minha apreciação aos modos de fazer de cada coisa. Existe uma poesia no preparo artesanal que não é tão facilmente lida, principalmente nos dias frenéticos em que vivemos; calma e atenção plena são requisitos fundamentais para apreciá-la.
Fico confuso quando vou a uma dessas redes multinacionais de café, que, apesar de terem funcionários treinados para tentar tornar a relação de compra e venda a mais pessoal possível, escrevendo meu nome no copo (frequentemente na grafia errada), não preenchem a cota de afeto que um café deve encerrar.
Por isso, assisto com entusiasmo a iniciativas como a do Troco do Café, em que o processo em si mesmo de preparação da bebida é colocado no seu devido lugar de protagonismo. Aqui, a emoção, aliada ao alto padrão de qualidade dos ingredientes e ferramentas auxiliares, encontra livre espaço para fluir e atender ao verdadeiro desejo de quem faz ou pede um cafezinho: abraçar e aquecer a alma.